Amamentar ao seio é importante? Sim!
O leite materno é superior a qualquer fórmula artificial? Lógico, não tenho a menor dúvida!
Tá certo, mas e se a mãe não conseguir? Se por um acaso ela tiver uma fissura não tratada e, em seguida, virar uma mastite, a produção de leite materno diminuir, o bebê perder peso, o emocional ficar abalado e pronto, era uma vez a amamentação. O que devo fazer? Ou melhor, o que "devemos" fazer (sim, porque vc também é responsável)?
Posso afirmar que cobrar com certos olhares não será o caminho certo a ser percorrido.
Nesse momento a mãe está mais que fragilizada, ela se sente também incapaz. Ela pensa mais ou menos assim: "Minha vizinha está amamentando, minhas primas amamentaram, minha irmã amamentou e só eu que não consigo. O que tem de errado comigo? Eu queria tanto amamentar...".
Ela passa a se sentir menos mãe, menos mulher.
Volto a falar o que já mencionei em postagem anterior, como estão sendo feitas as consultas de pré-natal? A futura mamãe tem sido realmente orientada de como é a fase de amamentação? Pelos relatos que ouço, muitas informações só são recebidas após o parto, mais precisamente quando a "mamãe" está enfrentando o tal do problema.
Devemos apoiar o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e complementado até os 2 anos de idade ou mais (que lindo!)?Claro que devemos, pois sabemos de todos os benefícios dessa prática tanto para mãe e bebê, quanto para nossos indicadores de saúde infantil. Mas vamos ser realistas também, né? Ainda existem muitos mitos, falta informação, como também faltam serviços voltados para que a amamentação seja bem sucedida. Portanto, enquanto estas práticas não mudarem, começando por um pré-natal bem feito, muitas mulheres terão dificuldades e não resistirão a tanta dor (e não me refiro somente a física, imagina só o filho não conseguir se alimentar) e o desmame será inevitável.
Que tal amenizarmos a dor dessa mulher? Amamentar teria sido bom, mas se não foi possível, não vamos julgá-la!
Vamos entender o que sente/pensa essa mulher que queria amamentar e não conseguiu. A psicóloga do Banco de Leite Humano do Hospital Universitário Materno Infantil, Wênnya Araújo, explica que por vivermos em uma sociedade em que o aleitamento materno é recomendado como a melhor forma de alimentar o filho, a mulher que não consegue amamentar, desenvolve esse sentimento de culpa. "Se essa mulher tivesse inserida em outro contexto cultural, onde a amamentação não fosse padrão, esse sentimento de culpa não existiria", destaca.
A psicóloga relata ainda que ao analisar o histórico dessa mulher, se ela foi amamentada, o sentimento de culpa prevalecerá ainda mais, uma vez que ela passa a ter uma a dívida simbólica com a criança, pois a primeira declaração de amor que a mãe faz para o bebê é a amamentação e ela não conseguiu.
Questionada sobre a possibilidade do sentimento de culpa ocasionar uma depressão, Dra. Wênnya Araújo alerta quanto a conduta a ser adotada. "A equipe de saúde nem sempre se preocupa em conhecer a realidade daquela mãe, os motivos pelos quais ela não conseguiu amamentar, isso já agrava os problemas dela. Antes de impor a amamentação, a equipe deve ter empatia, conhecer melhor essa história para conduzir adequadamente essa mãe".
.
.
Segundo a psicóloga, a família também tem um papel importante. "Como os familiares estão conduzindo essa situação? Se você percebeu que a mãe está apresentando um humor depressivo, que não é a mesma coisa que depressão, uma certa culpa em relação a dificuldade de amamentar, ela deve ser encaminhada para o acompanhamento psicológico".
Ainda de acordo com a profissional, é importante a mulher saber porque ela não conseguiu amamentar, o motivo pode estar no campo biológico e se não estiver, estará no psicológico, mas ela precisa saber. "A partir dessa conscientização podemos traçar um roteiro e conduzir melhor a situação, pois trata-se de uma vivência específica de cada mulher", concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário